sábado, 28 de fevereiro de 2009

A História das Coisas



Conclusões alcançadas a partir de uma questão...
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Observem que importantes informações podem ser coletadas através da investigação. Se você tem alguma dúvida, um questionamento por que não ir atrás de explicações, de respostas? Ir ao passado e voltar para compreender o presente?

A História é quase que um "leva e traz", porque ao mesmo tempo que algumas cosias mudam outras permanecem ou herdam cacarterísticas do que já foi.

Navegando mais uma vez na internet, encontrei este vídeo que ilustra muito bem, na minha opinião, o comportamento de um historiador que é, em princípio, um curioso. Que busca as origens, causas, sequências sobre aquilo que ele se propôs a saber. O vídeo é bem dinâmico e interessante, tendo aproximadamente 20 minutos. Vale muito a pena dar uma olhada.

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Annie Leonard é uma especialista internacional em sustentabilidade ambiental e temas de saúde, com mais de 20 anos de experiência investigando fábricas e depósitos em todo o mundo.
Ela já viajou para mais de 30 países, incluindo o Haiti, Bangladesh, Índia, Filipinas, Paquistão e África do Sul, em seu trabalho de investigação e de promover medidas anti-poluição internacionais. Em seu documentário "The Story of Stuff" (A História das Coisas) explora a economia global dos materiais e seu impacto sobre a economia, ambiente e saúde.
Ficou curioso(a)? Acesse: http://www.storyofstuff.com/


Para muitos, a História é uma ciência que estuda as ações e comportamentos humanos no decorrer do tempo e espaço. Conhecer a História, nos apropriarmos dela, serve para que pela experiência possamos tomar as nossas decisões com mais sabedoria e, talvez, modificar determinados hábitos ou posturas em prol de uma outra realidade. É analisar criticamente não apenas o passado, mas a começar de sua própria realidade, o tempo presente.

A História não é uma verdade absoluta, portanto, não pode nem deve ser decorada, absorvida sem nenhuma precaução ou cuidado. Ela é a análise e o seu discurso é uma visão crítica e subjetiva dos acontecimentos. Por isso, é preciso que mais que nos informarmos sobre os fatos, é preciso que a gente busque averiguar a veracidade das informações e observar as faces dessas "verdades" com as quais nos deparamos para que, por fim, cheguemos a uma conclusão própria sobre os acontecimentos.

A História também não tem limites, nunca foi ou estará pronta e acabada. Quando mais sabemos, mais queremos saber e sempre que encontramos respostas, nos deparamos com cada vez mais perguntas. O conhecimento é, portanto, uma busca contínua do entendimento das coisas. Felizmente, a humanidade e, por isso, nós mesmos deixamos vestígios, pistas que servem de instrumento para reconstrução desse quebra-cabeça infinito.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval - Milênios de folia


© AKG IMAGES/LATINSTOCK

Máscaras da liberdade: reputação a salvo na rua ou salão/
Os palhaços apaixonados, afresco, Giovanni Domenico

Tiepolo, 1793, Camera dei Pulcinella – Villa Tiepolo, Zianigo

O carnaval nasceu na Antiguidade, resistiu à Idade Média e chegou aos tempos atuais com formas diversas, mas com o mesmo fundamento: a suspensão dos estatutos sociais. Paradoxalmente, as tentativas de controle religioso quase sempre se converteram em mais diversão.

A palavra carnaval, do latim carnis levale, significa “retirar a carne”. O sumiço desse item do cardápio representa uma preparação para a quaresma, período dedicado à abstinência, ao jejum e, simbolicamente, ao resguardo do cristão em relação a prazeres mundanos. A quaresma vai da quarta-feira de Cinzas ao domingo de Páscoa, no calendário móvel dos católicos.

Tomou o mundo, entretanto, a interpretação de que os três dias que antecedem o suposto sacrifício do prazer deveriam ser um elogio ao excesso, e não uma preparação ritual do jejum. E isso está ligado às longínquas origens pagãs da folia.

Desde a Antigüidade, festas populares em várias culturas propunham algo muito parecido com o que se vê hoje no Brasil e no mundo: a suspensão momentânea do estatuto social, a inversão de papéis, de sexos e de valores, tudo com data marcada para terminar.

Só muito mais tarde essa catarse popular foi assimilada pelo calendário cristão, operação que resultou mais em fracassos do que em vitórias. No balanço geral, a derrota da religião diante do carnaval é retumbante. O cristianismo, por exemplo, jamais conseguiu esterilizar totalmente os loucos dias anteriores à quaresma, nem mesmo na Idade Média.

Registros históricos indicam que se encontra na Babilônia, cerca de dois mil anos antes de Cristo, a origem pagã mais remota do Carnaval. Mais especificamente, em festas anuais de verão chamadas Sacéias. O mote da brincadeira era a inversão da hierarquia. Durante cinco dias, os lacaios tornavam-se iguais aos seus mestres.

Durante as Sacéias, também era costume que um prisioneiro assumisse o lugar do rei. Exibindo as insígnias do poder, ele comia à mesa real e dividia o leito com as esposas do monarca. O sonho durava pouco: no quinto dia, o pseudo-rei era chicoteado, antes de ser enforcado ou empalado.

Outro rito babilônico, que tinha como fundamento a inversão, durava 11 dias e ocorria dentro do templo de Marduk, o primeiro dos deuses mesopotâmicos. No fim do quarto dia depois do equinócio da primavera, que marca o Ano Novo babilônico, o sumo sacerdote despojava o rei de seus emblemas de poder. A partir desse momento, o monarca era surrado e arrastado até a estátua divina.

A figura do governante humilhado revelava, então, seu objetivo moderador: o rei se jogava no chão e declarava solenemente não ter abusado de seu poder em relação a Marduk e seu templo, à cidade e a seus súditos. Era, em seguida, novamente consagrado, em um ato que garantia a renovação e a justa reordenação do todo o reino.

Alguns antropólogos vêem nesse antiqüíssimo rito mesopotâmico, e não nas Sacéias, a fonte do carnaval, que mais tarde seria exportado pelos persas ao Ocidente.

Outros deuses pagãos e reis contribuíram para enraizar as festas carnavalescas no mundo. Na Assíria da Antigüidade, sempre em março, acontecia a festa de Ísis, a divindade egípcia protetora dos navegantes e talvez a de maior popularidade na sua região de influência. Seus adoradores introduziram as máscaras na festa. Era com o rosto coberto que marchavam em uma alegre procissão, na frente de um carro que transportava uma barca, depois oferecida à deusa.

Em Roma, havia outras festas fundadas na suspensão das obrigações e das barreiras sociais. Chamavam-se Saturnálias, duravam uma semana e ocorriam no solstício de inverno. A folia fazia com que, nesse curto período, os senhores usassem chapéus dos escravos e os servissem. Por sorteio, era eleito um rei que podia fazer e dizer o que bem quisesse. Outra cerimônia, a das Lupercálias, acontecia em fevereiro, mês das divindades infernais e das purificações.

ENQUADRAMENTO A partir do século II, os doutores da Igreja decidiram considerar esses festejos como manifestações do Maligno, senhor da ilusão. Todo aquele que invertesse a ordem das relações sociais ou dos sexos entrava para o reino do demônio, e o homem, criado à imagem de Deus, cometia um grave pecado ao modificar sua aparência com máscaras, diziam.

Nada mudou, contudo, nas tradicionais festas romanas de janeiro, em comemoração ao Ano Novo. Em 31 de dezembro, a festa começava com fartas refeições familiares. Em 1o de janeiro, os banquetes e danças avançavam noite adentro. No dia 2, todos ficavam em casa, para se curar dos excessos da véspera. No dia 3, a festa recomeçava e atingia seu auge, com distribuição de moedas à multidão, jogos e desfiles de mascarados.

Esse ritual de origem pagã só encontraria seu enquadramento no novo calendário cristão, fixado no século IV. O nascimento de Cristo passou para o dia 25 de dezembro, e a visita dos reis magos, para 6 de janeiro. A criação da quaresma, cuja data é móvel e depende da Páscoa, ocorreu no século VIII e também teve como inspiração o desejo de controle sobre as práticas carnavalescas.

NOITES MEDIEVAIS

© AKG IMAGES/LATINSTOCK
Calendário europeu privilegiava bailes e espetáculos /
Encontro dos mascarados, óleo sobre tela,
Francesco Guardi, c. 1775, Museo del Settecento, Veneza

Por volta do ano 1000, o início do período fértil para a agricultura na Europa Ocidental era motivo de carnaval. Nessa época de grandes desmatamentos, propícios à criação de cidades, os carnavais urbanos e rurais possibilitavam aos habitantes marcar seu domínio sobre os novos territórios.

O carnaval era basicamente uma festa de rapazes jovens. Vestidos de mulher, percorriam em grupos os sombrios campos, nas noites de lua cheia, com o rosto enegrecido de fuligem ou sob panos. Alguns usavam as roupas pelo avesso ou um simples saco grosseiro sobre o corpo. Acessórios comuns eram focinhos de porco e capuzes de pele de coelho. Diziam-se habitantes de uma fronteira entre o mundo dos vivos e o dos mortos.

Esses bandos se acercavam das propriedades rurais gritando “Hu,Hu” e atirando pedras contra janelas, portas e telhados. O som de uma espécie de tambor avisava os ocupantes da iminente invasão da casa. Uma vez dentro, eles perseguiam garotas para conseguir um beijo, sentavam-se à mesa e devoravam crepes e bolinhos, feitos para eles. Tudo isso sem pronunciar uma palavra, a fim de manter o anonimato.

Os visitantes mascarados eram chamados de “medos” nos Pireneus Orientais. “Medo” designava, ao mesmo tempo, os que voltavam do outro mundo e o terror que suscitavam.

A Igreja, mesmo tendo absorvido algumas festas pagãs, tinha duas grandes dificuldades. Primeiro, não tolerava nem controlava a febre de usar máscaras, típica do carnaval. Segundo, tinha dificuldade para impedir os excessos de violência e obscenidade, que se repetiam todos os anos. No oeste da França, por exemplo, havia o jogo de soule –longínquo ancestral do rúgbi –, em que todos os golpes eram permitidos. Assim, as partidas da “terça-feira gorda” acabavam sempre em batalhas desordenadas.

SUBVERSÃO A vontade da Igreja de controlar a festa nunca conseguiu impedir seu caráter fortemente subversivo. As autoridades, além disso, tendiam a mitigar os exageros, pois viam nesses surtos liberais alguma utilidade: era um modo de controlar as reivindicações sociais da população.

Nos países germânicos, a vigilância foi muito mais rigorosa do que na França, em particular em Nurembergue. A partir do fim do século XIV, a duração do carnaval passou a se limitar aos três dias anteriores à quaresma, quando em outras localidades a festa tendia sempre a ocupar mais espaço no calendário.

A festa dos germânicos também foi contida na forma. Os desfiles foram regulamentados, e as fantasias, proibidas, com severas punições aos desobedientes. Em compensação, nasceu uma atração que duraria até a Renascença, apesar da oposição dos luteranos a partir do século XVI: as rápidas representações teatrais de rua. Os espetáculos eram feitos por personagens fantasiados e competiam em obscenidade.

RENASCIMENTO O carnaval continuou a prosperar nos tempos seguintes, até chegar à Renascença. Em particular nas cidades italianas, onde surgiu a commedia dell’arte, uma espécie de teatro improvisado muito popular até o século XVIII e que ainda hoje sobrevive.

Em Florença se desenvolveram as canções para acompanhar desfiles. Havia os trionfi, carros mitológicos concebidos por grandes pintores da época, como Botticelli, e os carri, que mostraram um mundo burlesco, no qual o cavaleiro carregava o cavalo, e o lavrador puxava uma charrua, sob o comando de um boi.

Em Roma e Veneza, os festejos celebravam vitórias políticas do passado e outros feitos históricos. Usava-se a bauta veneziana – uma capa de renda com capuz de seda negra, que enquadrava o rosto e cobria os ombros. Os acessórios eram um chapéu de três pontas e uma máscara branca. A fantasia permitia a abolição temporária de diferenças sociais e, em alguns casos, o prazer de uma perversão à sombra do anonimato.O carnaval em Veneza começava em 26 de dezembro, com bailes nas grandes praças da cidade. Prosseguia com festas, jogos, representações teatrais e outros espetáculos até a terça-feira gorda. Varrido com a República nas guerras napoleônicas do século XVIII, o carnaval de Veneza só foi efetivamente retomado na década de 70 do século XX.

No Novo Mundo, o carnaval chegou junto com a bagagem dos navegadores e exploradores, a partir do século XVI. Floresceu no Caribe, na América Latina e no Brasil.

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Véronique Dumas: doutora em História da Arte Contemporânea e escritora.


domingo, 22 de fevereiro de 2009

Quaresma em crise

O Pirralho - 1917

- Chi! Está pela hora da morte e é só espinha!...


Na charge de Vitolino para O Pirralho, o jejum da quaresma é forçado pela crise econômica de 1917. Dada a atualidade do tema, a charge poderia estar em qualquer jornal de 2009...

Revista de História da Biblioteca Nacional (13/02/2009)

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2232

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Orixás (os deuses iorubanos)


          Os mitos e lendas sempre estiveram presentes na cultura humana qualquer que seja a sua origem. Sereias, monstros , bruxas, heróis e deuses fazem parte de um universo imaginário criado pelo próprio homem em sua busca por respostas as quais nem sempre são encontradas na razão.

           A África é um continente muito rico do ponto de vista cultural e não diferente dos demais continentes também possui as suas lendas. Hoje vamos conhecer um pouco da cultura iorubá, um povo da África Ocidental que possui estreitas relações com a nossa sociedade, em especial, com a cultura baiana já que este foi o principal destino desse povo no período da escravidão no Brasil. A religião é ponto de partida para as respostas e necessidades deste povo, é deles que se orgina o culto aos orixás (deuses africanos).

          Para os iorubás, assim como outros povos da África, a natureza é um elemento fundamental para a sobrevivência humana, de modo que deve ser preservada e cultivada. Os orixás representam os pontos de força da natureza e suas principais características/personalidades estão intimamente ligadas às manifestações desta. Na África, cada orixá estava ligado a uma região ou nação, sendo assim o seu culto local. Acredita-se de cada orixá foi um ancestral/líder muito antigo, por isso, suas características se aproximam muito dos seres humanos, pois ambos são dotados de emoções manifestadas pela raiva, ciúmes, amor, sabedoria, etc.


Suas vestimentas tem relação com as vestes e ornamentos de seu povo


       A quem interessar saber da criação do mundo na visão dos povos iorubá, segue uma história bem bacana que encontrei na rede que dá para se ter ao menos uma idéia da visão mítica dos acontecimentos. Trata-se da história de Onilé, a deusa da Terra.

"Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare. Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via. Quase nem se sabia de sua existência.


Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões, Onilé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques. Onilé não se sentia bem no meio dos outros.


Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem: haveria uma grande reunião no palácio e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois haveria muita comida, música e dança.


Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.


Quando chegou por fim o grande dia, cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Olodumare.


Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola.


Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais.


Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas.


Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante, enfeitada com tenras folhas de palmeira.

Oxum escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios.

As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores, trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva.

Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade.

Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão.

Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio.

E assim por diante. Não houve quem não usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita. Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes. Os orixás encantaram o mundo com as suas vestes. Menos Onilé.

Onilé não se preocupou em vestir-se bem. Onilé não se interessou por nada. Onilé não se mostrou para ninguém. Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão.

Quando todos os orixás haviam chegado, Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono.

Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo e que estavam tão bonitos que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo. Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como começar a distribuição.

Então disse Olodumare que os próprios filhos, ao escolherem o que achavam o melhor da natureza, para com aquela riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo.

Então Iemanjá ficava com o mar, Oxum com o ouro e os rios. A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos, reservando as folhas para Ossaim. Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão. Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro, de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação. Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva. A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive a guerra. E assim por diante.

Deu a cada orixá um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular. Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de então cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza.

Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa que fosse da predileção do orixá.

Os orixás, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria, fazendo um grande alarido na corte.

Olodumare pediu silêncio, ainda não havia terminado. Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições. Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos orixás.

Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.

Quem seria? perguntavam-se todos?

“Onilé”, respondeu Olodumare.

“Onilé?” todos se espantaram.

Como, se ela nem sequer viera à grande reunião?

Nenhum dos presentes a vira até então. Nenhum sequer notara sua ausência.

“Pois Onilé está entre nós”, disse Olodumare e mandou que todos olhassem no fundo da cova, onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha.

Ali estava Onilé, em sua roupa de terra. Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta.

Olodumare disse que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Onilé, pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa. A humanidade não sobreviveria sem Onilé. Afinal, onde ficava cada uma das riquezas que Olodumare partilhara com filhos orixás?

“Tudo está na Terra”, disse Olodumare. “O mar e os rios, o ferro e o ouro os animais e as plantas, tudo”, continuou. “Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte”.

Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé, foi a sentença final de Olodumare.
Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros, pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem. Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído.

Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare. Todos os orixás aclamaram Onilé. Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.

E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás. "


História extraída da página:

http://orixas.com.br/matrizafro/index.php?option=com_content&task=view&id=21&Itemid=50