segunda-feira, 2 de março de 2009

Que feriado é esse?


Que sexta-feira é feriado, todos nós, pernambucanos, sabemos.
O que poucos sabem, no entanto, é que feriado é esse.

Há 200 anos, fugindo do exército francês, desembarcou no Brasil a família real portuguesa e a sua corte. O fato é que a permanência da família real não foi observada e aceita como muita satisfação por todas as regiões deste país.

Enquanto que o Sul, local onde a Corte portuguesa optou por se instalar passava por grandes transformações e benfeitorias, o Norte teria de arcaria com os custos dos grandiosos empreendimentos, o sustento da Corte e, ainda, as campanhas militares contra Caiena e as regiões do Prata.

"A fim de custear as despesas de instalação de obras públicas e do funcionalismo, aumentaram os impostos sobre a exportação do açúcar, tabaco e couros, criando-se ainda uma série de outras tributações que afetavam diretamente as capitanias do Norte, que a Corte não hesitava em sobrecarregar com a violência dos recrutamentos e com as contribuições para cobrir as despesas da guerra no reino, na Guiana e no Prata. Para governadores e funcionários das várias capitanias parecia a mesma coisa dirigirem-se para Lisboa ou para o Rio." (Maria Odila Silva Dias)

Afetada pela crise da produção açucareira e algodoeira (principais atividades econômicas), o descontentamento da região nordeste era grande. A seca de 1816 causou graves prejuízos à agricultura e provocou a fome nesta região. O sentimento era de que os "patriotas pernambucanos" estavam sendo explorados pelos portugueses da chamada "nova Lisboa". Com isso, crescia na província o sentimento antilusitano que desencadearia, sob influência dos ideais iluministas e a liderança de Domingos José Martins, Antônio Carlos de Andrada e Silva e Frei Caneca, o movimento emancipacionista que culminou na Revolução Pernambucana de 1817.

Naquela época, governava a província de Pernambuco Caetano Pinto de Miranda Montenegro que ao receber a notícia da revolta ordenou prisão dos envolvidos. Havendo resistido à prisão, os revoltosos mataram os militares apavorando o governador que se viu obrigado a fugir do palácio, sendo aprisionado logo depois. Segundo os populares, o governador fora “Caetano no nome, Pinto na coragem, Monte na altura e negro nas ações”.

Tomado o poder, os rebeldes instituíram um Governo Provisório que extinguia alguns impostos e ficavam encarregados da elaboração de uma Constituição e leis baseadas nas idéias liberais, que defendiam a liberdade religiosa, de imprensa e a igualdade para todos, exceto aos escravos. Esta exceção contrariava os princípios liberais, mas assegurava certo apoio dos senhores de engenho, propondo uma libertação dos negros "lenta, gradual e legal".

Bandeira da Revolução Pernambucana de 1817, cujas estrelas representam Paraíba,
Ceará e Pernambuco. Inspirou a atual bandeira de Pernambuco.


D. João VI logo enviou tropas, navios e armas para por fim a Revolução de Pernambuco, também conhecida como "A Revolta dos Padres" devido à participação considerável de membros da Igreja que, por sua vez, também eram grandes proprietários de terras. Organizando-se nos atuais estados da Bahia e Rio de Janeiro, as forças lusitanas cercaram o Recife por mar e terra, e assim, após alguns meses a agitação foi reprimida. Seus líderes deveriam ser presos e condenados à mais dura pena, a própria morte - ainda que alguns tenham contado com um ato de clemência de D. João.

É importante destacar para a importância de que esta foi a única rebelião anterior à independência do Brasil que ultrapassou os limites de uma conspiração, conjuração ou inconfidência. Os rebeldes permaneceram no poder conseguindo o apoio de outras províncias (Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará) e garantindo a existência de uma República independente de Portugal que durou 75 dias, de 6 de março de 1817 - eis que chegamos ao nosso feriado - até o dia 19 de maio do mesmo ano. Como punição Pernambuco perderia a província de Alagoas e a comarca do Rio Grande do Norte - que se tornaria uma província autônoma.